Guerra comercial pode impedir crescimento do comércio global, adverte vice-diretor da OMC
O aumento do protecionismo será também tema de um painel.Em entrevista divulgada no domingo (08) pela organização do Annual Investment Meeting (AIM), fórum sobre investimentos estrangeiros diretos que será realizado em Dubai a partir desta segunda-feira (09) a quarta-feira (11), o vice-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Yonov Frederick Agah, disse que uma guerra comercial e políticas tarifárias protecionistas podem impedir o crescimento do comércio global.
Os protagonistas desta disputa atualmente são os Estados Unidos e a China, que anunciaram na semana passada o aumento de tarifas sobre uma série de produtos importados um do outro que somam US$ 100 bilhões em comércio bilateral. A inciativa foi dos EUA, que antes já havia elevado as taxas de importação de aço e alumínio, e a retaliação chinesa veio em seguida.
“Dados econômicos e projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), do Banco Mundial de outras instituições foram constantemente revisadas para cima ao longo do ano passado, o que tenderia a indicar uma retomada sustentável do comércio em 2018, após um forte crescimento em 2017”, disse Agah, segundo comunicado do AIM. “No entanto, atritos comerciais e tensões geopolíticas também cresceram significativamente nos últimos meses. O uso crescente de medidas restritivas ao comércio – e as retaliações que isso traz – podem facilmente solapar uma perspectiva positiva para o comércio em termos gerais”, acrescentou o executivo da OMC.
Segundo ele, medidas protecionistas, tensões geopolíticas e incertezas sobre as políticas para o setor são vistas como os maiores riscos para o comércio internacional. “A OMC é a única entidade global do comércio, ela é o único fórum onde todos os países – inclusive os mais poderosos – podem cooperar no número crescente de questões comerciais que têm impacto em todos eles”, destacou. Agah informou que a OMC irá lançar no dia 12 seu relatório anual de estatísticas e projeções sobre o comércio.
Em fevereiro, a organização lançou suas mais recentes perspectivas para o setor, que apontavam para um crescimento forte da atividade no primeiro trimestre. “Reiterando, as perspectivas para o comércio e a produção baseadas nos fundamentos econômicos são positivas para 2018 e além”, declarou o diretor. “No entanto, a continuidade da recuperação é fundamentada na estabilidade do cenário atual do comércio, que é tênue e pode ser facilmente revertido por tensões políticas e atritos comerciais.
Os países membros devem usar o sistema multilateral para resolver suas diferenças e evitar que as incertezas econômicas prejudiquem o crescimento”, acrescentou. O presidente dos EUA, Donald Trump, tem se mostrado particularmente avesso ao sistema multilateral não só na seara comercial. “Disputas comerciais inevitavelmente surgem entre países, mas resolvê-las por meio de um processo neutro, transparente e baseado em regras impede um escalada”, ressaltou Agah, lembrando que as regras da OMC foram negociadas por seus próprios membros. “O fato de a OMC oferecer um ambiente transparente e previsível para o comércio internacional reduz as incertezas e pode promover um comércio e um crescimento econômico mais fortes, o que no longo prazo significa aumentar os padrões de vida”, disse. É diante deste quadro de recuperação da economia mundial que o AIM será realizado.
A conferência é uma iniciativa do Ministério da Economia dos Emirados Árabes Unidos e tem apoio do emir de Dubai, Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, que fará a abertura do evento. Maktoum é também primeiro-ministro e vice-presidente dos Emirados. Representantes dos setores público e privado vão debater temas como tendências de investimentos, parcerias público-privadas, sustentabilidade, promoção de investimentos, criptomoedas e fundos soberanos. Agah será um dos painelistas.
Na seara dos investimentos, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) prevê também crescimento para este ano. Entre os países que farão apresentações com objetivo de atrair investimentos estão os próprios Emirados, a China, Geórgia, Itália, Índia, Coreia do Sul, Rússia, Egito, República Democrática do Congo, Mali, Jordânia, Botsuana, Camarões e Nigéria. Haverá participação também de alguns órgãos públicos brasileiros e um painel exclusivo sobre América Latina e Caribe. O debate de abertura será sobre a indução do crescimento sustentável por meio dos investimentos estrangeiros diretos.
O aumento do protecionismo será também tema de um painel. Além da conferência, o evento terá rodada de investimentos e uma feira de negócios onde órgãos públicos e empresas vão apresentar seus projetos.
Fonte: Comex do Brasil
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